Na minha experiência como atleta e quando olho para trás, não era só eu que sofria pressões e para quem as coisas eram, muitas vezes, difíceis. Os treinadores também sofriam. Sempre admirei muito a função e o papel que eles têm que assumir, diante do atleta e das restantes pessoas a quem “têm que dar a cara”, assumir responsabilidades, gerir desilusões, desapontamentos, frustrações. Maioritariamente fazem-no com relação aos outros (atletas, pais, dirigentes, público, etc.). Mas no que respeita a forma como os treinadores gerem emoções difíceis, como comunicam, como lidam com adversidades praticamente constantes, como equilibram a vida pessoal com a desportiva, as inseguranças profissionais, etc., os treinadores têm muito pouco apoio e compreensão.

É esperado que o treinador esteja “sempre em controlo” de si próprio e dos outros, e que apresente resultados. Se não apresenta as coisas tornam-se difíceis e a sua segurança profissional vulnerável. E é de facto nesta exteriorização do treinador e da alta competição, que o treinador “acaba por cair”, pois ele próprio não tem o hábito de “olhar para dentro” para lidar melhor com as dificuldades. O foco é a preparação para a próxima prova, jogo, luta, corrida, e no resultado do atleta e equipa.

É um frenesim constante e, muitas vezes leva o treinador ao burnout ou próximo, ou a uma depressão, ou a outro tipo de manifestações da psique. E também não é só a saúde mental dos atletas que está em perigo na alta-competição, mas também a saúde mental dos treinadores. Em 2020, numa investigação com treinadores Olímpicos Australianos, a incidência de algum tipo de sintomatologia de doença mental foi de 41%, sendo sugerido pela ciência que, hoje em dia, a incidência de burnout em treinadores é equiparável ao burnout em atletas!